ENTREVISTA A TRAPATTONI - exclusivo Marados da Tasca

Dois dias depois do percalço de Penafiel, e enquanto decorria o jogo daquela outra equipa da Segunda Circular, o repórter da Tasca esteve à conversa com o treinador do Sport Lisboa e Benfica, Giovanni Trapattoni. Por entre um agradável bota-abaixo de Chianti tinto, colheita de 1996, aferiu-se o optimismo do treinador italiano quanto à conquista do campeonato, mesmo quando a liderança foi perdida.

MARADO DA TASCA - Trap, posso tratá-lo assim?
GIOVANNI TRAPATTONI – Presto! Claro - é assim que se diz, não é?…
MT – Sim! (risos de Trap) A derrota com o Penafiel comprometeu a vitória no campeonato?
GT - Ma´quê? Como? Nunca! (pausa – olha para a televisão, degusta um pouco de Chianti) Foi um jóco (jogo, em italiano) belíssimo do Benfica, mas sofremos um golo quanto não esperávamos. Acho...
MT – Mas não acha que faltou estofo de campeão aos jogadores?
GT – Má perquê (mas porquê?)? Eu disse aos meus jogadores que não era um jogo de vida ou de morte! Há tempo e muitos pontos ainda para disputar…

Um chileno qualquer da equipa rival do Benfica introduz, num livre duvidoso, a bola na baliza do Vitória de Guimarães. Trapattoni sorri, bebe mais Chianti e aplaude…

GT – Questo (este) é um bom resultado! (e continua a beber vinho!)
MT – Um bom resultado?! Mas eles acabam de marcar e passam para a frente do campeonato se se mantiver este resultado!
GT – Tranquilidade! - É a chave para o sucesso! É essencial para uma equipa ter pressão… e o cattenaccio, estilo que muito prezo, só funciona bem quando a ansiedade passa para o lado do adversário.
MT – Meu caro Trap, não estou a perceber nada! Mas que ansiedade? (o sexto copo de Trap acabava de ficar vazio)
GT – A ansiedade do líder! Eles vão entrar no nosso estádio a vencer o campeonato mas, sabem que se sofrerem um golo isso deixa de ser assim!... Logo, estão ansiosos para que tudo fique como está. É a chamada "ansiedade negativa".
MT – Mas e os jogadores do Benfica? Não estarão eles ainda mais ansiosos quando entrarem em acção?
GT – Também, mas eu preparo a minha equipa para jogar com calma e mascarar a ansiedade com um futebol all´ italiana! É a "ansiedade positiva".
MT – Trap, desculpe mas não o devo deixar beber mais…Não podemos brincar com coisas sérias!!!
GT – Calma! (enche mais um copo, ou melhor, dois copos; o meu e o dele) Eu explico: tudo isto é planeado! O adversário deve pensar que nós estamos fracos… Os pontos que perdemos estava programado serem perdidos! É natural, ou você acha que eu ia ganhar um campeonato com 6 ou mais pontos de avanço. Nunca! Eu prezo a emotividade no futebol… Quer maior emoção que ter uma final? Veja os títulos que venci em Itália e na Alemanha...
MT – De facto!...

GT - E mais: provo que o que digo está correcto. Nós estivemos à frente e a ansiedade da dianteira levou-nos a perder pontos. Imagine numa equipa treinada por um tal de... Cocheiro!

MT - Peseiro... Couceiro é o do Porto (pausa) e cocheiro é aquele que conduz coches!

GT - Vero? Se você o diz... (pausa; olha para o copo, depois para o tecto e "vira" mais um copo de vinho) Eu já ganhei tudo! Tutti!!! (aceno afirmativamente: contra factos não há argumentos) Acha que não ganho uma Liga em Portugal? (risos, e lá vai mais um copo)

MT - De facto, quem sou eu para duvidar das suas certezas?!

GT - Exacto!... quem é você? (um ar perplexo e depois risos; enganou-me, o velho!) Beba mais um chianti e fique para o rissoto. A minha mulher é fabulosa a fazê-lo... Já agora, explique-me essa do cocheiro que não percebi bem...

Após mais uns copos, um prato de rissoto alla millanesa e uma conversa algo desconexa que não ousamos transcrever, a reportagem foi concluída com um brinde ao Benfica. O clube do bairro de Alvalade vencia, de facto, o Guimarães por um tangencial 1-0. Trap aplaudiu e não se cansou de repetir qué bello! e aquela história da ansiedade negativa. Sábado, logo se vê se a «velha raposa» tem razão. Se assim for, a Tasca vai estar em festa!