Um dia de luto nacional - alguns factos e a memória
O desaparecimento de Álvaro Cunhal motivou o governo da República a decretar, hoje, dia de luto nacional. Há uns poucos meses atrás, quando morreu uma freira "vidente" (a salazarenta irmã Lúcia) foram decretados três dias. Tal poder-se-ia explicar com o facto de o governo ser liderado por um beato bacoco como Santana Lopes e por um recalcado católico muito pouco católico de seu nome Paulo Portas! Mas, cremos que não explica tudo... Algo vai, portanto, mal num Estado que se diz laico!
O desaparecimento de Cunhal motivou ainda ao resurgimento mais activo de Mário Soares. Mais uma vez fica provado o quanto o estadista bochechudo prima pela imprecisão e pela incoerência das suas afirmações (isto para não lhes chamar não-verdades): na entrevista de ontem, na SIC, Soares contou estórias diferentes das que contara na sua entrevista-biografica a Maria João Avilez, publicada em três volumes vai para lá de uma década... O certo é que, o «vencedor» Soares, teima a não se encontrar com a realidade e a memória, sobretudo quando narra o seu papel e o de Cunhal durante o PREC.
Um extremista de esquerda referia ontem, nas páginas do Público, que Cunhal era tudo excepto um comunista e um revolucionário, pelo que, quando teve todas as condições para fazer vingar a revolução recuou. No fundo, nas palavras deste dissidente do PCP, Cunhal era um «burguesote» que cedeu sempre a interesses das classes médias. Interessante esta perspectiva, sobretudo se a comparar-mos às perspectivas à direita do PCP, começando pelas estórias de Mário Soares e acabando nas análises "científicas" acerca de Cunhal pela pena de Sousa Lara, de Nogueira Pinto ou de alguns historiadores em evidência que perderam a noção de que a história se constroí no tempo e não nos pulsares do dia-a-dia.
Finalizo, neste dia em que a presença física de Cunhal desaparecerá para sempre, com excertos de um poema escrito pela sua irmã Maria Eugénia Cunhal. Só uma nota: os Marados fazem um brinde final a esse simbolo de coragem e determinação de seu nome Álvaro Barreirinhas Cunhal; para que a memória não seja uma vaga ideia.
Quando vieres
Encontrarés tudo como quando partiste (...)
Quando vieres
Nenhum de nós dirá nada (...)
E abriremos para ti os nossos corações.
Quando vieres
não és só tu que vens
É todo um mundo novo que despontará lá fora.
Quando vieres.
4 Comments:
Milhares de pessoas, milhares de vozes, milhões de lágrimas... Foi o maior funeral de sempre registado em Portugal. Só acontece com aqueles que marcam a História e a memória de um povo. Até sempre, camarada Álvaro.
Só uma nota: do alto da sua sapiência, José P. Pereira proferiu ontem na SIC, acerca de Cunhal, um chorrilho de disparates. No cardápio do biógrafo isento e desapaixonado (será mesmo assim?) sairam considerações como:
- ninguem percebe nada do que foi Cunhal («surpreende-me quando se diz que Cunhal foi coerente», e passou a exemplificar com textos que o líder do PCP assinou e onde criticou posições e realidades da URSS);
- «Cunhal criou o seu próprion personagem durante toda a vida. Era um actor!»;
- o mito em redor de Cunhal é «prejudicial para a democracia portuguesa».
A JPP resta responder:
- Cunhal era intransigentemente coerente ao marxismo-leninismo enquanto doutrina, ideologia e, também, forma de viver - essa era a sua coerência estrutural, não sensível, obviamente, a conjunturas;
- Quem sofre tanto em nome da sua causa, quem se sacrifica de um modo tão violento pela sua luta, quem abdica de tudo em nome de uma vida em prol dos outros não pode ser sempre um «actor» - Cunhal geria habilmente a sua imagem espartana e asceta de comunista exemplar mas não pode ser acusado de ter alimentado durante toda a sua vida um cego e egocentrico culto de personalidade;
- O exemplo de Cunhal enquanto homem e político não deve ser varrido da aprendizagem democrática do País - o mito em seu redor só pode contribuir para a solidificação de uma democracia servida por melhores agentes políticos.
E por aqui me fico, não sem antes sugerir a todos que façam ver a JPP (através dos seus blogs) que podemos, e devemos, ser desapaixonados a fazer História, porém, não devemos ser cegos e tolos a analisar particularmente os fenómenos e as personalidades.
Mas, enfim, todos sabemos que JPP gostaria de mesmo de ter sido um comunista da estripe de Cunhal e que, entre o amor e o ódio pelo seu ídolo, tem de permanecer na aparência do virulento e sagaz historiador da vida do líder histórico do PCP.
CAMPANHA DE VERÃO «BORA CHATEAR O PACHECO»
Tendo em conta as considerações de José Pacheco Pereira (ver o primeiro comment a este post), aqui se apela aos Marados e amigos que vão a
http://estudossobrecomunismo.weblog.com.pt/
e façam de vossa justiça.
Aviso: no Abrupto não dá para comentar!
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