A importância de NÃO VOTAR CAVACO

Caros Marados e amigos da tasca,

Na maior parte das vezes, pelo blog «Marados da Tasca», só se brinca. Porém, e não querendo de modo algum significar com este post uma inversão nos valores que norteiam este blog, falamos hoje de coisas muito sérias, por isso espero que leiam este texto até ao fim.
Daqui a pouco menos de 48 horas abrem as urnas onde milhões de eleitores depositarão o seu voto, de modo a eleger o futuro Presidente da República Portuguesa. Votar, dirão alguns, começa a ser uma prática desacreditada, típica de um regime democrático em profunda crise. Não obstante estas correntes abstencionistas ganharem relevância, o voto continua a ser a única arma da democracia que nos torna iguais entre iguais (Rico ou pobre: um homem, um voto). Por isso mesmo, votar é um imperativo categórico, sobretudo agora. E a melhor forma de protestar, é mesmo votar. Mas, há que votar bem para fazer ouvir a voz do nosso protesto.

Votar bem é protestar contra a manipulação de opinião pública empreendida pelos apoiantes de Cavaco Silva.
Votar bem é protestar contra as linhas editoriais dos media, que julgam puder ter criado um novo tipo de sebastianismo a que chamaram Cavaco Silva.
Votar bem é protestar contra um homem que não lê jornais, crê nunca ter dúvidas e raramente se enganar.
Votar bem é protestar contra o branqueamento da história dos dez anos de governação cavaquista.
Votar bem é protestar contra aquele que apelidou uma geração que ele pôs à rasca (à data e daí em diante) de «geração rasca» (se tens hoje entre 30 e 35 anos não podes ter esquecido essa manifestação profunda do que foi e do que nos legou o cavaquismo).
Votar bem é protestar tal como se protestou em 1996, quando se derrotou Cavaco Silva, porque ninguém no seu perfeito juízo conseguia tolerar mais «cavaquismo».
Votar bem é protestar contra o principal responsável pela brutal carga policial sobre os manifestantes da Ponte 25 de Abril, quando a desmobilização estava já garantida.

Votar bem é protestar contra aquele que criou as condições para uma autentica batalha campal entre polícias em pleno Terreiro do Paço (lembram-se dos «secos e molhados»?).
Votar bem é protestar contra quem permitiu que uma ministra da educação fizesse, de uma geração de alunos, cobaias numa reforma de ensino descabida e proferisse com convicção salazarenta que «nem todos podem ser doutores» (a ministra chamava-se Manuela Ferreira Leite e tinha, à data, dois filhos a estudar em universidades públicas).
Votar bem é protestar contra aquele que se pensa um arauto da economia e das finanças e liderou três governos, num total de 10 anos, com 5 ministros das finanças, numa média de um em cada dois anos (um deles, Miguel Cadilhe, comparou Cavaco a um eucalipto «que seca tudo à sua volta»; porque será?).

Em suma, votar bem é protestar. Protestar é NÃO VOTAR CAVACO, porque estas são apenas uma dezena de boas razões para a responsabilidade acrescida que cabe a cada um de nós assumir no próximo domingo, dia 22 de Janeiro, ao votar. Lembrem-se, como escreveu Eric Weil, que «os homens livres que se esquivam às responsabilidades que a liberdade implica não poderão jamais ser felizes nem continuar livres». Por isso, façam do voto um acto de protesto, livre e responsável, porque NÃO VOTAR CAVACO não significa forçosamente votar em Soares. Significa, isso sim, perceber que o País só poderá evoluir arrumando os bolores do passado no seu devido sítio. E Cavaco é um desses bolores, não obstante tudo o que nos querem fazer crer.
Faço votos para que votem bem e levem o vosso voto de protesto a uma segunda volta.