Piropos e Assobios

Caros Marados e amigos da Tasca,
Não me apetecendo escrever sobre cenas tristes entre candidatos presidenciais (como seria normal nesta época – é natal, não é?), ocorreu-me hoje a necessidade de deixar algumas linhas sobre uma cena da vida quotidiana que envolve piropos e assobios. Senão vejamos…
Parece cair em desuso o famoso piropo em assobio dirigido a belas (ou não tão belas, que as perspectivas nem sempre são as mesmas) mulheres. Na verdade, qual de nós não presenciou já, provindo de um andaime ou do fundo da rua, aquela cantilena assobiada tão usual entre o típico macho latino. O certo é que as mulheres sempre negaram a excelência de tal uso bárbaro, não obstante (e já me o confessaram!) o piropo dar azo a um razoável acesso de auto estima.
Mas o que me confunde mesmo é que, sendo o piropo assobiado tido como aparentemente ofensivo pela maioria das mulheres, verificar-se agora uma nova onda do assobio como forma de presentear as namoradas. Refiro-me a uma cena cada vez mais comum, e facilmente verificável entre os casais adolescentes, que consiste num assobio tipo «anda cá Bobby» provindo dele para ela. Se bem me lembro, entre homens, a prática era comum. No fundo, o assobio era uma espécie de reacção tribal urbana para focalizar a atenção. Agora, entre namorados não deixa de ser estranho. Ainda mais se, em resposta, elas sorriem com os olhos raiados de paixão!
Não deixa de ser curioso como o enaltecedor piropo assobiado (não falo daquelas descortesias tipo «ó boa!», «ó grossa!», «comia-te toda!», etc.; limito-me àquela cantilena assobiada) se extingue por ser formalmente ofensivo e o assobio entre namorados se fez moda. É estranho que tenham andado as mulheres a lutar pela sua dignidade (considerando o piropo como uma atitude bárbara) para as novatas começarem a responder ao assobio canino com um ar delicodoce. Será a ordem natural das coisas ou pura inconsciência da libido feminina? – Freud que explique que eu vou beber um copo!