A Soldo de Cavaco

Caros marados e amigos da tasca,
Parece por demais evidente que nos preparamos para ter Cavaco em Belém dentro em breve. E não é preciso ser detentor de um oráculo para o sabermos. Basta-nos apenas escutar com alguma atenção os comentários proferidos nos órgãos de comunicação social para perceber que há um candidato evidentemente escolhido. Não se trata propriamente de uma gestão engenhosa da informação veiculada. Tudo passa por ler uma realidade que não corresponde propriamente à verdade e manipulá-la de modo a que Cavaco, mesmo fora de jogo, seja sempre aquele que marca os golos.
Um breve exercício: percam cinco minutos a ouvir o que dizem os comentadores nos média logo após um debate, seja quais forem os candidatos envolvidos. Hão-de observar que as iluminadas conclusões são sempre as mesmas: Cavaco venceu! – Mas venceu como se não esteve no debate, perguntam vocês. Que querem que vos responda? Venceu efectivamente por motivos engenhosamente variados que se prendem com as fraquezas que todos parecem ter, excepto (claro está) Cavaco.
Exemplos claros de que os directores e editores dos grandes jornais nacionais, analistas ou comentadores estão a soldo dos interesses que sustentam a candidatura de Cavaco são facilmente vislumbráveis:
- Debate Cavaco/Alegre: O director do «Público» liga, com um subtil entredentes, Alegre aos que defenderam o Pedroso da Casa Pia (SIC); Cavaco apresentou-se igual a si mesmo, ou seja, cinzento e sem qualquer ideia acerca do que é ser Presidente, porém, a ideia veiculada foi a de que Alegre era tão parecido a Cavaco que, obviamente, o favorecido perante o eleitorado foi o último.
- Debate Jerónimo/Soares: Um debate de amigos e compadres onde só pontualmente houve discordância; Conclusão evidente, «CUIDADO Sr. Eleitor, não vote em Soares que ele tem tudo para ser um perigoso comunista, tal como o sinistro operário metalúrgico que joga chinquilho, apesar dos 80 anos (nunca é tarde para mudar, não esqueça)».
- Debate Cavaco/ Louçã: evidentemente, e face ao chorrilho demagógico e populista do Chico, o Aníbal venceu de novo sem ter apresentado uma única ideia.
- Debate Alegre/Louçã: sem ter jogado, as conclusões são unanimes em atribuir a Cavaco o prémio de melhor jogador; Alegre revelou ser um candidato do centro que não percebe nada desta poda de ser querer e ser Presidente, e ainda mais, dizendo-se de esquerda e querendo parecer de centro; o Louçã mostrou estar em forma e, ele sim, representou a sua esquerda; João Marcelino (do Correio da Manha – não é gralha, é a verdade, MANHA) não deixou de frisar que «Cavaco não é o candidato da direita».
Não me alongo mais mas, enquanto cidadão, chamo a vossa atenção para o assunto. Reflictam e, se votarem, pensem bem. Anda muita gente a soldo por causa de um tipo. Não deixa de ser, no mínimo, curioso.